terça-feira, 12 de maio de 2009

CIBERGUERRA. A MAIOR AMEAÇA MUNDIAL APÓS A BOMBA ATÓMICA E O 11 DE SETEMBRO

Exclusivo i/The New York Times

por David E. Sanger, John Markoff e Ethom Shanker, Publicado em 12 de Maio de 2009

É um mundo onde não se aplicam as regras dos conflitos convencionais. Barack Obama quer mais esforço dos EUA no combate às ciberarmas que podem sabotar centrais eléctricas ou congelar mercados financeiros

Quando as forças dos Estados Unidos no Iraque quiseram atrair a Al-Qaeda para uma emboscada, piratearam um dos computadores do grupo e modificaram as informações de forma a colocar os terroristas na mira das armas americanas. W quando, no ano passado, o presidente George W. Bush ordenou novas tácticas para abrandar o desenvolvimento de uma bomba nuclear iraniana, aprovou um plano experimental secreto - cujos resultados são ainda obscuros - para penetrar nos computadores do Irão e sabotar os projectos.O Pentágono adjudicou a um grupo de empresas da área da Defesa a tarefa de desenvolver uma réplica secreta da internet do futuro. O objectivo é simular o que seria necessário para os inimigos sabotarem e encerrarem as centrais eléctricas do país, as redes de telecomunicações e os sistemas de aviação, ou para congelar os mercados financeiros - num esforço para construir melhores defesas contra esses ataques, bem como para criar uma nova geração de armas online. Exactamente como, há 64 anos, a invenção da bomba atómica mudou as formas de fazer a guerra e os mecanismos de dissuasão, começou agora uma nova corrida internacional para desenvolver ciberarmas e sistemas de protecção contra elas. Milhares de ataques diários a sistemas informáticos federais e domésticos nos Estados Unidos - muitos oriundos da China e da Rússia, alguns com intenções agressivas, outros de simples teste à resistência das firewalls norte-americanas - levaram a administração Obama a rever a estratégia dos EUA. Espera-se que o presidente Barack Obama proponha, nos próximos dias, um esforço defensivo muito mais alargado, incluindo a expansão - em de 17 mil milhões de dólares (13 mil milhões de euros) - de um programa de cinco anos aprovado pelo Congresso em 2008; a nomeação de um responsável da Casa Branca para coordenar este dossier; e o fim da interminável guerra burocrática para definição de um responsável pela defesa contra ciberataques.Porém, não é de esperar que o presidente faça grandes revelações sobre as capacidades ofensivas norte-americanas, nas quais os serviços secretos têm gasto milhões de dólares. Em entrevistas nos últimos meses, uma multiplicidade de responsáveis militares e de inteligência (serviços secretos), bem como especialistas externos, descrevem um grande aumento na sofisticação das capacidades de defesa dos EUA contra a ciberguerra. Vários aspectos do esforço norte-americano para desenvolver ciberarmas e definir o seu uso adequado mantêm-se confidenciais, razão por que muitos responsáveis não aceitam falar publicamente do assunto.A Casa Branca recusou diversos pedidos de entrevista sobre a matéria e nem sequer clarifica a posição de Obama: se é a favor ou contra o recurso a ciberarmas pelos norte-americanos.As inovações mais exóticas que estão a ser consideradas permitiriam a um programador do Pentágono entrar sub-repticiamente num servidor russo ou chinês, por exemplo, e destruir um botnet - um programa potencialmente destrutivo usado para infectar computadores de uma vasta rede, que pode ser controlada clandestinamente - antes de este software nocivo poder ser libertado nos Estados Unidos. Os serviços secretos poderiam também activar um código maliciosos que é secretamente incorporado em chips de computador durante o seu fabrico, permitindo aos Estados Unidos controlar os computadores dos inimigos por controlo remoto activado sobre a internet. Este, claro, é precisamente o tipo de ataque que os responsáveis receiam poder ser lançado contra alvos norte-americanos através de chips ou computadores fabricados na China.Até hoje, contudo, as forças norte -americanas não têm autorização para entrar na ciberguerra.A invasão do computador da Al-Qaeda no Iraque, anos atrás, e a espionagem no Irão foram autorizadas individualmente por Bush. Em Janeiro do ano passado, quando Bush deu uma série de ordens secretas para organizar e melhorar as defesas online norte-americanas, a sua administração não conseguiu chegar a acordo quanto à redacção final da autorização.O principal responsável por essa ordem admitiu que o assunto passou para a administração Obama, em parte por causa da complexidade das operações de ciberguerra que, por necessidade, provavelmente teriam de ser conduzidas nos sites nacionais e estrangeiros. Depois da controvérsia que rodeou a espionagem doméstica, os conselheiros de Bush concluíram que a Casa Branca não tinha credibilidade, ou capital político, para lidar com o assunto.vulnerabilidades electrónicas A ciberguerra não seria tão mortífera como uma guerra atómica, claro, nem igualmente visível ou dramática. Porém, em Maio de 2007, Mike McConnell, ex--director dos serviços secretos, informou Bush a ameaça, de uma forma inequívoca. Um só ataque bem sucedido a um grande banco "teria um impacto na economia global maior que o 11 de Setembro". McConnell, que deixou o cargo há três meses, avisou no ano passado que "a capacidade de ameaçar as reservas monetárias norte-americanas é o equivalente actual de uma bomba atómica". Os cenários desenvolvidos no ano passado para Obama por McConnell e o seu coordenador para a cibersegurança, Melissa Hathaway, foram mais longe. Incluíam diversas vulnerabilidades incluindo um ataque a Wall Street e uma operação para deitar abaixo a rede eléctrica nacional. E eram na sua maioria extrapolações de ataques já tentados no passado. As autoridades militares dos EUA temem que as leis e as regras dos conflitos armados não sejam aplicadas no cibermundo, onde os alvos mais vulneráveis são civis. "A Rússia e a China têm muitos hackers nacionalistas", lembra uma fonte militar.
Tags: ciberguerra, armas, eua, obama

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