quinta-feira, 26 de junho de 2008

LISBOA ROMÂNTICA DESTRUIDA...

Comentário por mim publicado no post, do blog "cidadaniaLx", "Av da República (e imediações), á espera do fim" (34) :


Há teorias que têm servido ao longo das últimas décadas, para proteger e sustentar de uma forma moralista e arquitectónicamente correcta, a destruição das construções do sec XIX em Lisboa.Ora, todos sabemos que nem todas as construções do sec XIX, são exemplares brilhantes de arquitectura da época mas, como também o não são, todas as construções existentes nos bairros históricos mais antigos. Ora, tal motivo, não justifica nem valida, aos olhos de quem seja sério, a ideia de destruir metade dos prédios desses mesmos bairros (mesmo os que estejam estruturalmente debilitados)... É que o valor patrimonial, histórico e arquitectónico de uma determinada zona, não pode ser apreciado nem medido caso a caso, mas sim como um todo, como um conjunto. É o que acontece, nos vários casos apontados neste blog e que, sugestivamente o título indica; "Av da República (e imediações) á espera do fim".É portanto, toda uma parte significativa da história da arquitectura da cidade que está a ser destruída e não um caso isolado de um edifíciozinho sem importância e sem valor(até prémios Valmor são destruídos).
Aqui, neste espaço de debate, também estão em causa os valores de contemporaneidade levados ao seu mais sublime e desinteressado patamar: Não se defende a destruição do património, justificando o acto com tiradas sonantes de intelectualismo académico, porque não nos movem interesses que não a sua simples defesa; pretende-se preservar o edificado e aumentá-lo na medida do respeito mútuo entre ideias de diferentes épocas que devem manter-se e interligar-se.Estas zonas das Avenidas Novas, Av da República, Av da Liberdade e outras, têm uma identidade e uma história que deveria ser mantida como forma de leitura prática e palpável, de uma época determinada .
A novidade, deve criar o seu espaço e não limitar-se a ocupar o já existente; deve criar vida e sustentabilidade própria, numa simbiose com a cidade mais antiga, aquela que ficou lá atrás.O novo, não pode nem deve substituir por completo o anterior, sob pena de perdermos a identidade e a memória da cidade, forma injustificável de legado ao futuro, destruindo irremediávelmente, o percurso da história. Entendo pois, que o vanguardismo do pensamento da arquitectura, não reside sómente no formalismo, ou na concorrência da erudição das formas, mas também, na capacidade de sermos capazes de relegar os instintos mais primários de ocupação de espaço ou da destruição do edificado, por motivos simplesmente pragmáticos e economicistas.A cidade, em minha opinião, deve manter um percurso histórico coerente e de fácil análise e interpretação; deve mesmo manter uma concêntricidade que resulte da sua evolução natural.A destruição e digo-o com convicção, a que assistimos, nada tem de fundamentos teóricos modernos, aceitáveis e credíveis, neste início de século; é antes demonstrativo do atraso relativo, em que alguns dos nossos pensadores mais proeminentes, teimam em prosseguir.

1 comentário:

Lesma Morta disse...

Belo artigo. Parabens.