quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ESPANHA FAZ NOVO TRANSVASE SEM CUMPRIR MÍNIMOS


Hoje in "Diário de Notícias"

País vizinho violou convenção ao não respeitar os limites de água a deixar passar
O transvase da bacia do Tejo para a do Guadiana, em Espanha, que começou esta semana está a causar polémica entre ambientalistas: os espanhóis defendem que é melhor usar recursos da própria bacia do Guadiana e para os portugueses não faz sentido o país vizinho tirar mais água do Tejo quando no ano passado não respeitou os limites mínimos de água que devia deixar passar para Portugal.
Este transvase "de emergência" foi aprovado pelo governo espanhol em Novembro e prevê o desvio de 10 hectómetros de água para salvar o Parque Las Tablas de Daimiel da seca e dos incêndios subterrâneos (ver caixa). Para José Luís Ferreira, do partido Os Verdes, Espanha "não pode fazer transvases do Tejo sem cumprir os mínimos que acordou com Portugal". E para Paulo Constantino, da associação ProTEJO, este e outros desvios de água estão a ameaçar a sobrevivência do rio. Até porque assim chegam a Portugal apenas as águas já utilizadas (em grande parte poluídas) pelos sete milhões de habitantes da zona de Madrid.
Já o Ministério do Ambiente diz que a Convenção de 1968 prevê que os espanhóis possam retirar do Tejo, anualmente, até mil milhões de metros cúbicos. Desde que cumpram os mínimos de água que tem de entrar em Portugal segundo a convenção de Albufeira, de 1998.
Mas não é isso que está a acontecer. O presidente do INAG (Autoridade Nacional da Água) admitiu em Outubro que no último ano hidrológico só chegaram a Portugal 2500 milhões de metros cúbicos quando estavam previstos 2700. Ou seja, 200 milhões foram indevidamente retidos, ao mesmo tempo que se desviavam 400 milhões de metros cúbicos do Tejo para o Segura. Aliás, é desse transvase que sai agora este desvio.
A solução foi contestada por todos os grupos ambientalistas espanhóis, que condenaram que se desvie água da bacia do Tejo, assegurando que existem alternativas melhores na própria bacia do Guadiana. Em declarações à Europa Press, Miguel Ángel Hernández, dos Ecologistas en Acción, insistiu que as chuvas dos últimos dias deixaram a bacia do Guadiana mais a 51% da sua capacidade total, enquanto a do Tejo a 48,6%.
Por outro lado, Paulo Constantino salienta que esta medida só vem acelerar os planos de abastecer a população local da Ciudad Real com água do Tejo. Uma ambição que não é escondida pelo secretário de Estado Josep Puxeu, que ontem disse que assim se salvava o parque e se acelerava o abastecimento de 550 mil habitantes da região.
E ainda há outro transvase do médio Tejo para o Segura que está a ser estudado pela Junta de Estremadura, embora os ministérios do ambiente e dos negócios estrangeiros tenham recebido garantias do governo espanhol de que não há nenhum transvase previsto.

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