quinta-feira, 5 de novembro de 2009

GOLFE GASTA TANTA ÁGUA COMO OS CITRINOS, MAS RENDE SETE VEZES MAIS; DIZEM OS PROMOTORES


«.11.2009 in "Público"
Idálio Revez

Semear relva para jogar golfe, no Algarve, rende sete vezes mais do que plantar pomares de laranjeiras. Mas as contas não se fazem só a multiplicar - o turismo também é uma actividade de risco, e os custos ambientais têm um preço que nem sempre é contabilizado. Durante o Portugal Masters, em meados do mês passado, quando Vilamoura foi notícia por atrair os principais jogadores mundiais, foi declarada a falência de um dos principais operadores turísticos - o Inta Group (3 D, Billgolf e Longshot), deixando dívidas por liquidar na região superiores a três milhões de euros.

O preço da laranja, quando o mercado está em alta, anda pelos 30 cêntimos/quilo ao produtor. O valor, queixam-se os agricultores, mal paga as despesas. Já no que toca ao negócio do golfe, a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA, estima que os 36 campos existentes na região rendam 75 a 80 milhões de euros por ano. A questão polémica prende-se com as consequências ambientais, relacionadas com os elevados consumos de água, e com a discussão sobre se os campos devem, ou não, continuar a ser regados com água potável, captada a partir de furos, ou ser obrigados a reutilizar os efluentes das estações de tratamento de águas residuais.
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O presidente da associação Algarve Golfe, Christopher Stilwell, filho do promotor de primeiro campo que surgiu na região - o golfe da Penina, em 1966 - alega que um campo de golfe consome o mesmo ou menos que um pomar de citrinos com a mesma área. A mesma ideia é subscrita na tese de doutoramento de Manuel Costa, na Universidade do Algarve. Cada campo, diz, gasta por ano cerca de 0,5 milhões de metros cúbicos. Os citrinos, que ocupam uma área de cerca de 20 mil hectares, "gastam sensivelmente a mesma quantidade de água por área".
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Luís Brás, dirigente da associação ambientalista Almargem, por seu lado, alega que enquanto a maioria dos pomares já utiliza o sistema de rega gota a gota, reduzindo as perdas, os relvados são regados por aspersão. "Numa região como o Algarve, tal como acontece nalgumas regiões espanholas, deveria ser obrigatório a reutilização da água das estações de tratamento de águas residuais (ETAR) para regar os golfes, mas tem havido grande resistência por parte dos promotores". Dos 36 campos da região, apenas um - o dos Salgados, é abastecido com água reutilizada. Clientes endinheirados
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Segundos os estudos da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), estima-se que os turistas que jogam golfe, cada vez que se deslocam para um torneio, gastem em extras cerca de cinco vezes mais do que pagam no aluguer dos campos. O presidente da AHETA, Elidérico Viegas, lembra que os proprietários de bares e restaurantes, têm como referência de "bom cliente" este tipo de turistas, que ocupam os empreendimentos numa altura em que muitas unidades hoteleiras encerram. Durante o Portugal Masters, os cinco clubes de animação nocturna de Vilamoura viveram uma espécie de festa de Natal antecipada.
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Os campos do Algarve, no ano passado, registaram uma média de 34 mil voltas por green. Um valor, sublinha o presidente da AHETA, "notável a nível mundial" (a Espanha ficou-se pelas 14 mil voltas). Porém, de acordo com a AHETA, verificou-se até final do mês de Setembro uma quebra nas receitas deste sector de 18,7 por cento, em relação ao ano anterior, mas nos meses de Julho e Agosto "subiu o número de portugueses a jogar golfe", enfatiza Stilwell, administrador do grupo Oceânico, que explora sete campos da região. No que toca à falência do operador turístico Inta Group, comenta: "Um colapso brutal para o Algarve". Sobre a recuperação das dívidas, não tem esperança de reaver o dinheiro. "Duvido que se consiga alguma coisa", mas, em relação ao futuro, acrescenta que os clientes que já fizeram as reservas e pagaram não vão ficar prejudicados porque agora "existe um seguro que cobre essa situação".»
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Meus amigos, é caso para dizer que a continuarmos assim, qualquer dia estamos todos a pastar... a relva, claro

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