segunda-feira, 6 de julho de 2009

NA BAIXA, "É TUDO MAIS CARO E VELHO"

Na Baixa, "é tudo mais caro e velho"
Família da Sé mudou para Gondomar porque vivia em más condições. Jovem gestora vai reabilitar um edifício degradado no centro para regressar às origens
00h30m
CARLA SOARES
Do Centro Histórico do Porto para Rio Tinto, em Gondomar, a família de Augusto Magalhães saiu porque não tinha lugar para os filhos dormirem e comprar outra casa ficava muito caro. Se uns partem para sempre, outros regressam para concretizar um sonho. Rita Macedo, que vive com os pais em Gaia, está a recuperar um edifício em plena Baixa portuense, para voltar à cidade onde nasceu, cresceu e estudou.
Augusto e a mulher, Maria Lúcia, moraram 18 anos na Sé, primeiro na Rua de S. Sebastião, junto a uma casa de fados e, depois, na Rua dos Pelames. Num caso pagavam "800 escudos" e, no outro, "um conto e duzentos de renda", recorda o casal. O primeiro prédio era velho e o segundo não era melhor. "Saímos de lá porque não havia condições para os nossos filhos", conta Maria Lúcia, hoje com 59 anos de idade e quase 16 de residência em Gondomar.
No rés-do-chão da Rua dos Pelames, faziam da sala um quarto para todos, com cortinas a dividir. "Não tínhamos quarto e havia água a passar lá dentro", explicou Augusto, lembrando que ali existia uma mina. Na casa de banho, uma sanita e o lavatório. Tomar banho "era na bacia", disse Maria Lúcia que, apesar disso, gostou de morar na Sé. Até porque "estava perto de tudo e do trabalho".
Na altura, pediram uma casa à Câmara. "Deram-nos um T4 num bairro, mas para duas famílias. Não quisemos", disse Augusto, explicando que, na Pasteleira, iam ter de "partilhar a cozinha e a casa de banho". Foi assim, "no tempo de Fernando Gomes", que saíram e optaram por adquirir casa própria. E por que não compraram no Porto? "Porque lá é tudo mais caro e mais velho", explicou o marido.
Inscreveram-se para a cooperativa das Areias. Ficaram com um T3: um quarto para eles, outro para os dois rapazes e outro para a filha, que saíram de casa mas ainda moram em Gondomar e Valongo. Também por isso, o casal não deverá voltar para o Porto, onde as casas "continuam muito caras".
Hoje, as condições já são boas. Porém, Augusto pergunta por que razão, "na Sé e na Ribeira, as casas estão todas fechadas". Mas gostariam de regressar: "Eu não, habituei-me a este sítio", garantiu Maria Lúcia. "Ai, eu voltava", contrapôs o marido, recordando o tempo em que descia até à Ribeira para pescar. "O povo lá era um espectáculo", concordou a mulher.
Rita Macedo, gestora bancária de 28 anos, comprou um prédio degradado de três pisos na Lapa, com uma típica fachada de azulejo. Para Rita, é "um retorno às origens". "Esta é a cidade onde nasci e passei grande parte do tempo", recorda. Além de ter vivido com os pais no Porto, ali perto moravam os avós paternos e maternos.
Uma das avós colocou no mercado as casas que tinha e, como a da Lapa era "a mais difícil de vender", surgiu a oportunidade. "Entusiasmei-me e fiquei com ela", explicou Rita, que vai manter a inquilina do rés-do-chão. Pagou 50 mil euros, preço de família. Mas as obras ficam por 135 mil, se não tiver apoio do Recria, que poderá rondar os 50%. O projecto já foi entregue na Câmara em Março e o processo corre, igualmente, na Porto Vivo. Quando começam as obras? "Assim que me deixarem", diz Rita. Também um dos responsáveis pelo seu projecto, Pedro Monteiro, dos "Arquitectos Aliados", está a reabilitar uma casa para morar no centro.
in "Jornal de Notícias"

Sem comentários: