sexta-feira, 10 de julho de 2009

MAALOUF QUER VER O MUNDO UNIDO DENTRO DE "QUATRO A OITO ANOS"

Maalouf quer ver o mundo unido dentro de "quatro a oito anos"
por Joana Stichini Vilela, Publicado em 10 de Julho de 2009


O escritor libanês está em Lisboa. No último livro, "Um Mundo Sem Regras", defende que o desregramento do mundo pode destruir-nos

Amin Maalouf demorou cinco a escrever o seu último ensaio
Alexandre Almeida/kameraphoto
Descontraído, o escritor libanês Amin Maalouf tira um pente do bolso interior do casaco, passa-o uma, duas vezes pelo cabelo, sorri, benevolente, e diz-se pronto para a entrevista. Não é a pose esperada para quem quarta-feira encheu um auditório, três salas e os corredores da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com personalidades como o filósofo Eduardo Lourenço, o antigo Presidente da República Jorge Sampaio e a política Maria José Nogueira Pinto para falar do "desregramento económico, intelectual e climático" que ameaça destruir o mundo.
Mais conhecido pelo romance histórico, com obras como "Samarcanda" e "O Périplo de Baldassare", Maalouf, de 60 anos, acaba de lançar o ensaio "Um Mundo sem Regras" (DIFEL). "Com a ficção podemos influenciar as coisas a longo prazo", justifica, "mas se precisamos de descrever uma situação urgente, consciencializar as pessoas, temos de nos expressar de uma forma mais directa." Levou cinco anos a escrever o livro. Pelo caminho concluiu dois libretos de ópera.
Barack Obama O vencedor do Prémio Goncourt 1993 defende que é urgente criar uma "nação humana", com "os mesmos valores universais" e enriquecida por todas as "diversidades culturais", se não queremos "perecer numa barbárie comum". Impossível? "Temos de o fazer. E se é a única alternativa torna--se realista", argumenta. "Se não agirmos no espaço de quatro a oito anos, não sei se teremos outra oportunidade."O período é o de uma ou duas legislaturas e uma referência constante (embora não seja a única) é o presidente dos EUA Barack Obama - uma das quatro razões pelas quais conclui ainda ter esperança no futuro. "Acredito fortemente que ele compreende os problemas, que tem vontade de mudar e é intelectual e eticamente capaz de conduzir esta acção", diz.
Os outros motivos para acreditar que há uma solução são a ciência, a Europa e o facto de os países mais populosos estarem a desenvolver-se. O mundo árabe não está perdido, diz, mas cabe também a Obama fazer a ponte. "Se ele falhar vai ser um desastre para todos. Para a América, para o resto do mundo, para nós", diz. O país ideal Para o libanês não há países perfeitos. No Líbano, uma rapariga de véu e outra vestida à europeia podem andar de mãos dadas como irmãs, mas não há a liberdade desejável. O país mais próximo do ideal "embora também tenha coisas a criticar", sublinha, será "talvez" o Canadá.
Uma nota final para os fãs do romancista. Maalouf começou a trabalhar num novo livro de ficção, o primeiro em quase 10 anos. Não revela a história, mas promete: "Se tudo correr como esperado, deverá sair em 2011."

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