por MÁRCIO ALVES CANDOSO Hoje
O novo 'mini car' indiano chega à Europa em 2010. Promete cumprir as normas ambientais. Custo do modelo-base: menos de 6000 euros. Mas na Índia pode tornar-se um pesadelo.
Ainda não tem data marcada para chegar à Europa, mas tal não ocorrerá antes de 2010. Apresentado há dias no Salão de Genebra e ontem na sua terra natal - a Índia -, o Tata Nano promete revolucionar o mercado de veículos de pequena cilindrada. É que o custo é verdadeiramente concorrencial.
A versão mais barata - que em Portugal não deverá atingir os 6000 euros, após impostos - não tem air bags, ar condicionado, rádio, bancos reclináveis ou janelas automáticas. A frente é de plástico. Mas é por tudo isto que o maior fabricante de automóveis da Índia pode prometer este nível de preços. No seu país de origem não custa mais de 1500 euros, mas a imposição de equipamento obrigatório na UE, nomeadamente em termos de segurança e de ambiente, agrava em cerca de quatro vezes o seu preço na Europa.
As anedotas em torno do Tata Nano ("é uma nova chupeta para bebés?", perguntava ontem alguém, questionado pelo DN sobre o seu conhecimento da marca) entrelaçam-se com questões bem mais sérias. A controvérsia instala-se. As anedotas até nem são novas e reciclam outras que se contavam quando, na Europa dos anos 50, começaram a a aparecer os primeiros automóveis low cost, como os Fiat 500 e 600 ou o Citroën 2cv. Gwynne Dyer, uma jornalista inglesa independente, afirmava há dias ter já ouvido a célebre "como é que se consegue duplicar o valor de um Tata Nano? Simples, enches-lhe o depósito". Ou então: "quantos engenheiros são necessários para fabricar um Nano? Dois, um dobra e outro põe a cola".
Mas, para lá do humor, a verdade é que a administração da Tata garante que vai cumprir as normais ambientais europeias. Já a partir de Setembro do corrente ano que vai entrar em vigor o pacote 'Euro 5', que limita as emissões (para um automóvel ligeiro a gasolina, por exemplo) a 1000 miligramas de monóxido de carbono por quilómetro (mg/km). Segundo a AFP, o Nano, embora apresente performances, a este nível, melhores do que as normas em vigor na Índia, vai ter que sofrer alterações para ser homologado no Velho Continente.
A Tata promete igualmente o cumprimento das normas de impacto em caso de acidente. Os detractores do produto dizem que, na Índia, existe um único laboratório para medir esta eficiência... o qual pertence à Tata.
O Nano - palavra que em grego quer dizer 'duende' e em gujarati, a língua nativa da família Tata, é sinónimo de 'pequeno' - promete todas as dores de cabeça da democratização industrial. Ratan Tata, administrador da empresa e considerado o visionário que imaginou o Nano, dizia ontem que teve a ideia de criar o carro quando via "famílias inteiras em duas rodas, com o pai a guiar com um filho ao colo e a mãe atrás com outro agarrado às costas". Com o Nano, quase 200 milhões de indianos pouco afortunados vão poder mudar de meio de transporte.
Mas, como lembrava há dias um articulista do The Washington Post, "dezenas de milhões de indianos a guiar um automóvel é o fim do mundo em termos de poluição". Ou seja, muitos milhões de 'soluções' podem tornar-se um enorme problema.
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