quarta-feira, 25 de março de 2009

NO JORNAL "SOL"

NOVO MUSEU DOS COCHES ENFRENTA PROVIDÊNCIA CAUTELAR

Por Margarida Davim
Numa manifestação que juntou cerca de duas centenas de pessoas, esta quarta-feira, em frente ao local onde vai ser construído o novo Museu dos Coches, em Lisboa, os movimentos cívicos anunciaram estar a estudar uma forma de parar o projecto nos tribunais

Foram cerca de duas centenas as pessoas que se juntaram esta quarta-feira, em frente ao local onde o Governo quer erguer o novo Museu dos Coches, para protestar contra o projecto.
Na sua maioria funcionários dos serviços de arqueologia do IGESPAR – cujas instalações começaram a ser parcialmente demolidas na semana passada –, os manifestantes empunhavam cartazes contra o «despesismo» do projecto que vai custar 31,7 milhões de euros.
«Não faz sentido gastar esse dinheiro num novo museu para os coches, quando há tantos museus a precisar de obras ou de instalações novas, como é o caso da Arte Antiga ou do Museu do Azulejo», defende Luís Raposo, representante português do Internacional Counseil of Museums (ICOM).
Para travar «um projecto que não faz sentido nenhum», as associações cívicas que promoveram o protesto estão mesmo a ponderar avançar para os tribunais.
«Já consultámos juristas para avançar com uma providência cautelar no âmbito de uma acção popular para travar a construção do novo Museu dos Coches, parar as demolições nos serviços de arqueologia e impedir que o Museu de Arqueologia vá para a Cordoaria», avançou ao SOL Luís Marques da Silva, do Fórum Cidadania Lx.
Luís Raposo, director do Museu de Arqueologia, explicou ao SOL estar convencido de que «não há condições para que [o museu que dirige] vá para a Cordoaria», como chegou a ser anunciado.
«Foi-nos garantido pelo ministro da Cultura que não iremos para a Cordoaria a menos que haja condições ideais», assegura Raposo, para quem faltam garantias de que haja nesse espaço «condições de conservação das colecções, de climatização, de segurança do ponto de vista sísmico e até de espaço para a instalação dos serviços».
A complicar ainda mais as coisas está o facto de ainda não ter sido assinado o protocolo entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Defesa para a cedência da Cordoaria. «É um imbróglio», comenta Luís Raposo, sublinhando que o aval do gabinete de Severiano Teixeira só deverá ser dado «depois de a Defesa ter a certeza de que o Museu de Arqueologia vai deixar os Jerónimos, permitindo a ampliação do Museu da Marinha para todo o espaço dos Jerónimos».
Obras nos serviços de Arqueologia continuam
Maria, uma funcionária dos serviços de arqueologia do IGESPAR que não se quis identificar, garante que apesar do anúncio de suspensão das demolições, os trabalhos continuam nas antigas Oficinas Gerais de Engenharia Mecânica.
«É um perigo para as pessoas que lá trabalham, mas também para o património que lá está», alerta a funcionária, que diz não compreender por que motivo se iniciaram as demolições para a construção do novo museu «quando ainda nem se sabe para onde vão as pessoas e o espólio dos serviços de arqueologia».
Também presente na manifestação, Pedro Soares, do Bloco de Esquerda, considerou ser «uma tristeza que se comecem as demolições antes de se encontrarem alternativas» para albergar os serviços de arqueologia.
Para o dirigente bloquista, «é fundamental preservar o património» que se encontra no local, antes de avançar com as obras.
Pedro Soares questionou ainda a necessidade de construir de raiz um novo Museu dos Coches «numa situação como aquela que se está a viver em que os recursos são tão escassos».
margarida.davim@sol.pt

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