quarta-feira, 25 de março de 2009

COMENTÁRIOS À CARTA ABERTA DA PP CULT AOS DEFENSORES DO NOVO MUSEU DOS COCHES

Caros e estimados representantes do Fórum Cidadania:
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No desejo simples de vos enviar um contribuito pessoal, bem reflectido, para clarificar os termos da polémica em curso, sobre o novo Museu dos Coches, venho com este texto, agradecendo a vossa atenção:

1 - O tema deve ser entendido num contexto geral: não só o do "Ministério da Cultura", mas também de "intervenção urbano-arquitectónica"; não só de "política de museologia" mas de "intervenção cultural com significado internacional", etc, etc. Evita-se assim a queda na "politiquice" ou no "mesquinho nacional", ou ainda no que é circunstancial.

2 - o tema deve ser lembrado (como fez, e muito bem, a carta de Miguel Júdice há dias) no processo longo em que se insere, que vem do século passado - e não como uma decisão aparentemente "caída do céu" e deste governo: o programa para um novo Museu dos Coches no local actualmente previsto foi definido pelo Projecto VALIS em 1991 (depois fragmentadamente integrado em programas estatais e municipais), foi iniciada a sua implemenção pelo governo em 1994 (no quadro de preparação dos financiamentos europeus comunitários) e foi avançando (e sendo discutido), continuamente, mas como se vê lentamente, desde então..até 2009.

3 - o Museu dos Coches tem um valor própio notabilíssimo, e uma correspondente expressão e significado nacionais e internacionais, sendo um dos poucos que atinge essa dimensão, dentre os museus portugueses. Nada que os envergonhe - mas o Museu de Arte Antiga, o de Arqueologia ou o da Marinha possuem uma dimensão e valor próprio mais estritos, cabendo no quadro do país. Essa será a razão primeira para investir a sério nele - criando espaços que se sabe serem necessários e não caberem no actual, dignificando-o, dando-lhe a escala que merece, e sobretudo introduzindo uma mais valia (a chamada "massa crítica") com a nova instalação. Nada que impeça o actual espaço de museu, antes picadeiro, de funcionar depois em complemento com o novo (expos temporárias, "o melhor do museu", etc) - isso só valorizará todo o conjunto e o espaço de cidade directamente envolvido.

4 - o projecto vale sobretudo pela intervenção urbanística (só depois pela arquitectura, e depois ainda pelo programa), recuperando um vasto espaço murado e fechado à urbe, num local "estratégicamente cultural" dela (Belém - Junqueira), no eixo que o CCB já ajudou a valorizar - não esquecer que a cidade funciona com a junção periódica de novas energias, espaços, ideias, e não apenas "mantendo e recuperando" o que existe. Liga-se a rua da Jnqueira ao espaço do Museu da Electricidade (outro valor internacional, pela dinamica que vem tendo - porque não se fala dele, que será agora muito valorizado, deixando de estar meio "escondido"? "Liga-se" a praça do Palácio de Belém com a Cordoaria, e isto tem a a ver com o futuro desta (será o "passo seguinte"...)

5 - finalmente, o tema do novo museu não deve inviabilizar as eventuais futuras operações, e a sua concepção inteligente, escalonada e estratégica. Neste sentido, a polémica tem sido de grande utilidade, e estou-vos grato pelas questões de recuperação e de outros investimentos capitais que defendem, com a melhor intenção e sentido cívico.

Atent, José Manuel Fernandes arq

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