Com apenas 1,60 metros de largura, o edifício corre risco dederrocada por danos na estrutura causados pela construção de outro prédio. (foto: "Forum arquitectura")
00h14m
MÓNICA COSTA
O prédio mais estreito da Europa, com 1,60 metros de largura de fachada, fica em Lisboa, mas tem os dias contados. As obras numa construção ao lado provocaram-lhe danos irreversíveis, que levam agora a Câmara a impor a demolição.
Há menos de uma década, Manuel Serrão era o orgulhoso proprietário do prédio mais estreito da Europa - a fachada mede apenas 1,60 metros - o número 16 da Rua Aquiles Monteverde, em Lisboa. Mas em Julho de 2000, escavações feitas sem escoramento num terreno contíguo, para construir um novo imóvel (onde hoje existe o número 12), provocou a queda parcial do número 14 e danos muito consideráveis no 16.
"Naquela altura havia pessoas a morar lá. Mas a Protecção Civil desalojou as inquilinas, porque o prédio não estava em condições de ter pessoas a viver lá. A uma das inquilinas arranjaram-lhe uma casa nos Olivais, e a outra foi viver para casa da filha", recordou Manuel Serrão, de 78 anos.
Revoltado com a situação, Manuel pretende imputar responsabilidades aos proprietários do número 12 e ser ressarcido pelos danos sofridos. "O caso está em tribunal há quase oito anos. Parece que, finalmente, vai avançar agora com o início do novo ano judicial", revelou, desgastado.
Com o passar dos anos, Manuel viu o seu imóvel degradar-se. Por cada chuvada mais forte, cai um pedaço do prédio mais estreito da Europa e do edifício do lado. O perímetro das fachadas está vedado com grades da Polícia Municipal, mas segundo a vizinhança, quando o estacionamento escasseia, as grades desaparecem, para dar lugar aos automóveis. As entradas estão vedadas, as janelas tapadas e a demolição parece ser a única solução para um prédio que um dia o IGESPAR (antigo Instituto Português do Património Arquitectónico- IPPAR) quis classificar, de acordo com Samuel Serrão, filho de Manuel.
"Eu e a minha irmã pensámos em dar um destino diferente ao prédio e queríamos instalar lá uma galeria de arte. Íamos concorrer ao Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados (RECRIA), quando o IPPAR disse que queria classificar o imóvel. Aguardámos e entretanto aconteceu aquele acidente. O IPPAR não classificou nada...", lamentou.
Manuel Serrão decidiu entretanto vender o prédio. "Já está à venda há muito tempo. Eu e o dono do número 14 temos uma combinação: vendemos os dois prédios, e dividimos igualmente o dinheiro", afirmou, triste por não vislumbrar qualquer hipótese de recuperação do edifício.
Entretanto, há cerca de três anos a família recebeu uma carta da Câmara de Lisboa, que os intimava a fazer obras no edifício. "A carta dizia que se não as fizéssemos, a Câmara tomava posse administrativa do prédio. Não fizemos obras nenhumas, já que estamos à espera da resolução do tribunal, por isso suponho que a autarquia já tenha tomado posse...", alvitrou Samuel Serrão.
A Câmara de Lisboa, através do gabinete do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, confirmou ao JN a intimação para as obras, que diz serem de demolição, e que o prazo para a sua realização terminou em Fevereiro de 2006. Mas nega que tenha tomado posse administrativa do imóvel e afirma não estar prevista qualquer intervenção coerciva. E adianta que uma vez que as obras não foram feitas, em Dezembro do ano passado "foi comunicado à Polícia Municipal que se instaurasse um processo de contra-ordenação".
Para a vizinhança, que lamenta o estado a que prédio chegou, a situação só vai ter solução quando ali acontecer uma desgraça.
in "Jornal de Noticias", 15 de Setembro de 2008
Parece que mesmo que a vontade dos proprietários seja a de recuperarem o seu património, as teias da Lei impedem que tal aconteça, como se houvesse interesse em demolir tudo o que tenha a ver com edifícios da época romântica; o próprio IGESPAR parece tornar-se obsoleto e moroso quando tal é conveniente...
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