quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SAÚDE: MAIS DUAS QUEIXAS POR RECUSA DE REMÉDIO INOVADOR DO CANCRO

por Rute Araújo, Publicado em 14 de Janeiro de 2010 Actualizado há 18 horas

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Ministra da Saúde está hoje sob fogo cruzado da oposição por causa do tratamento oncológio prestado aos doentes

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Oposição diz que os progressos são lentos e cancro é ?o parente pobre? da saúde
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Dois médicos fizeram chegar queixas ao colégio da especialidade de Oncologia da Ordem dos Médicos pelo facto de os hospitais onde trabalham terem recusado comprar medicamentos inovadores para o tratamento de doentes com cancro. O presidente, Jorge Espírito Santo, adianta que as situações estão ainda a ser analisadas e escusa-se avançar com os nomes das unidades onde ocorreram. É a terceira vez que clínicos levam à Ordem casos semelhantes, depois de um médico de um hospital do Médio Tejo ter exposto pela primeira vez o problema e o colégio lhe ter dado razão.
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A restrição à utilização de medicamentos inovadores vai ser levantada pela deputada do CDS Isabel Galriça Neto num debate sobre oncologia hoje na Assembleia da República com a ministra da Saúde, Ana Jorge. A médica lembra um estudo do Karolinska Institute do ano passado para mostrar que o acesso dos doentes a estes tratamentos está a ser vedado. "Dos 87 produtos aprovados internacionalmente, os doentes portugueses apenas tinham acesso a 29", acusa. A deputada vai confrontar a ministra com os atrasados do Infarmed, a quem compete desde 2006 aprovar previamente as aquisições de tratamentos inovadores por parte dos hospitais.
E diz que "se isto acontece por falta de dinheiro, alguém que o assuma perante os doentes". O exemplo vai para alguns medicamentos para o cancro do pulmão e da mama que são aconselhados pela Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas mas que depois não são aprovados nem pelo Infarmed nem pelas comissões de farmácia e terapêutica dos hospitais.
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A presença de Ana Jorge no Parlamento foi solicitada pelo PSD, que vai apresentar um projecto de lei nesta área para levar "à concretização efectiva do combate à doença, o parente pobre da saúde". O debate foi marcado uma semana depois de o coordenador Nacional para as Doenças Oncológicas ter estado na comissão de saúde para explicar o plano para a nova rede de cuidados oncológicos, a pedido do Bloco de Esquerda e do PSD. Os critérios de qualidade propostos num documento ainda em discussão pública implicarão o fecho de serviços. Mas, na única vez que comentou o assunto, Ana Jorge evitou a palavra "encerramento". A forma como esta reforma será concretizada ainda está envolta em incertezas. O coordenador Pedro Pimentel adiantou que é para concretizar até ao final do ano, mas remete para as Administrações Regionais de Saúde a decisão sobre quais as unidades a encerrar, a manter ou a criar.
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Além da nova rede, o reforço da radioterapia proposto pela coordenação há mais de um ano e ainda na gaveta será outro tema em discussão pelos partidos da oposição, que prometem fogo cerrado à ministra numa área onde os indicadores mostram "progressos tímidos". Apesar da melhoria, as listas de espera para a oncologia mantém tempos acima do desejável, como a própria ministra já admitiu. O número de especialistas está abaixo das necessidades - há pelo menos 13 hospitais que tratam o cancro mas que não têm oncologistas. E o dinheiro gasto nesta área é dos mais baixos da União Europeia.
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O objectivo do coordenador Pedro Pimentel é criar mínimos de qualidade em cada hospital. Neste momento há 55 a receber pacientes oncológicos, mas muitos estão longe de oferecer o melhor tratamento. Uma das medidas propostas é o atendimento de pelo menos 500 doentes por ano, 250 dos quais com necessidade de tratamentos globais. Os especialistas, como o presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro, Vítor Veloso, concordam que é necessário arrumar a casa, mas temem que este critério feche metade das unidades do país, deixando o interior a descoberto.

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