quarta-feira, 20 de maio de 2009

VIH/SIDA PORTUGAL ENTRE OS MAIORES EXPORTADORES EUROPEUS DE SIDA

por Marta F. Reis, Publicado em 20 de Maio de 2009
.
.
"Retrovirology", uma das mais conhecidas revistas científicas do mundo, publica o estudo das fontes de contágio


O turismo em Portugal propicia a exportação do HIV. REUTERS
.
.
Portugal é um dos quatro países que mais exportam o vírus da sida revela um estudo científico que será publicado hoje na revista "Retrovirology". O país aparece ao lado de Espanha, Grécia e Sérvia na lista negra das principais fontes de contágio no espaço europeu.
.
Ricardo Camacho, investigador português que participou neste estudo científico internacional, afirma que o projecto "analisa as detecções do VIH nos diversos países" e verifica o seguinte: os 18 estados analisados importam e exportam o vírus. Mas há estados que exportam mais, enquanto outros exportam menos: "Portugal importa e exporta.
.
"O cenário agrava-se quando, no mesmo estudo, o Luxemburgo surge como o país com maior incidência de infecções por via externa. Os investigadores sugerem que a taxa de incidência no país estará directamente relacionada com o facto de 13% da população ser constituída por imigrantes portugueses.
.
Esta leitura não é nova. Em 2004, Jean-Claude Schmit, médico do serviço de doenças infecto-contagiosas do Centro Hospitalar do Luxemburgo, garantia que a infecção pelo vírus da sida entre a comunidade portuguesa, naquele país, era três a cinco vezes a superior à do resto da população. A nova investigação, que mapeou pela primeira vez a evolução do subtipo B do vírus da imunodeficiência humana (VIH), confirma as suspeitas: Portugal está de facto na origem de muitas infecções no espaço europeu, tendo ainda como foco secundário os emigrantes portugueses na Áustria.
.
"Além de ser um país turístico, Portugal tem uma longa história de migrações. Por outro lado, temos de olhar para trás, e perceber que as campanhas de prevenção não têm conseguido controlar a propagação", justifica Ricardo Camacho, que é investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.
.
O grego Dimitrios Paraskevis, coordenador do estudo, sugere que "destinos turísticos como Portugal, Grécia e Espanha espalham provavelmente o VIH às pessoas que os visitam durante as férias".
.
Por esse mesmo motivo, apela o investigador, "os programas de prevenção nacionais não devem apenas ter como alvo as populações locais, mas também emigrantes, viajantes e turistas - que são as principais fontes e alvos do VIH".
.
Para Luís Mendão, do Grupo Português de Activistas sobre os Tratamentos do VIH/SIDA (GAT), estes resultados "são o preço a pagar por se ter ignorado o problema nos anos 90". "Portugal, infelizmente, tem todas as epidemias concentradas. Temos uma grande incidência entre homossexuais, toxicodependentes e provavelmente temos também uma epidemia concentrada entre os descendentes africanos, que já nasceram em Portugal e na prostituição." Mas, se é uma "conjuntura especial", as "respostas não podem ser exclusivamente nacionais", adianta. "A Europa tem aqui um grave problema: num mundo de fronteiras abertas são precisas soluções concertadas."
.
O projecto agora divulgado partiu de uma análise filogenética molecular, que permite detectar a evolução do vírus conforme se vai mutando por transferência, ou dentro do próprio organismo. Do projecto patrocinado pela Comissão Europeia resulta um mapa com os principais caminhos de propagação do subtipo B do VIH-1, o mais comum no espaço europeu, em 17 países da UE e Israel.
.
A Polónia é o país onde as infecções por via externa têm menos relevância. A Grécia é o país com mais focos de contágio, com ligação directa a países como Bélgica, Alemanha, Noruega, Holanda, ou Reino Unido - países entre os que mais "importam o VIH", revela o estudo. Segundo os especialistas contactados pelo i, mais do que alertar turistas e imigrantes, importa melhorar a triagem dos portadores do vírus e estudar, por exemplo, a existência num país de um subtipo pouco comum na Europa, o G. "Nunca foi estudado a fundo, não sabemos quais são os principais grupos de risco."

A sensibilização continua a ter um problema. Durante vários anos, Ricardo Camacho respondia a dúvidas de pessoas que recorrem diariamente ao site informativo Aidsportugal.com. "Como é possível, ao fim de 25 anos, as pessoas não saberem onde dirigir-se? Há aqui um aspecto comportamental que precisa de ser avaliado para uma melhor resposta", sublinha.
.
Margarida Martins, presidente da Abraço, reitera: "Apesar da enorme taxa de incidência - 280 casos por cada milhão de habitantes, em 2004 - não há abertura, não há prevenção nenhuma, há medo de distribuir preservativos na escola."
in jornal "i"
.
O estado português continua completamente apático perante este caso de pandemia que, entre nós, vai afectando cada vez mais pessoas.
É certo que esta doença já não provoca actualmente, na sua evolução, um processo degenerativo tão rápido, como há vinte anos atrás:
Então, o diagonóstico positivo era uma sentença de morte a curto prazo e decorria paralelamente, a um processo angustiante de degradação fisica e mental.
A SIDA passou a ser considerada quase como uma "doença crónica", com uma esperança de vida muito alongada no tempo e sem a carga psicológica, associada ao definhar fisíco a que as pessoas estavam sujeitas.
Não deixa no entanto de ser um contra senso que, em Portugal, país com estes indíces de pessoas infectadas, a prevenção e combate á doença não passe pelas campanhas publicitárias de grande envergadura e qualidade, nem pela educação e informação persistente junto da população , com especial incidência na população escolar, resumindo-se a um tipo acções, incapazes de produzir resultados palpáveis e objectivos, extemporãneas e desagregadas no tempo, sem sequência e efeitos práticos.
Esta nova "medida" agora anunciada, da intenção de serem distribuídos, de forma avulsa, preservativos nas escolas, mais não passa de uma acção de propaganda, que para nada servirá, a não ser para provocar nos alunos, um claro incentivo ao sexo desenfreado e sem regras.
Enquanto fôr este (e outros do gènero), o pensamento subjacente ao processo educativo português, nunca mais será dado o salto qualitativo, necessário ao desenvolvimento nacional, nem este problema em concreto, será controlado.
A quem interessará isso?
.
Luis Marques da Silva

Sem comentários: