sexta-feira, 24 de abril de 2009

"O SOL" Semanário

Na foto: Jorge Santos Silva, Paulo Ferrero, Nuno Santos Silva: os "operacionais"do movimento cívico Forum Cidadania Lx

Por Margarida Davim

Chamam-lhes fundamentalistas, velhos do Restelo, D. Quixotes. Escrevem diariamente num blog, lançam petições na Internet, dão entrevistas aos media e dizem só ter em comum o amor por Lisboa e a vontade de lutar por causas ligadas ao património, à mobilidade e ao ambiente.
Paulo Ferrero tem 45 anos e é licenciado em Economia, mas há cinco anos que dedica todo o tempo livre ao Fórum Cidadania Lx. A ideia surgiu para tentar impedir a demolição da casa Garrett e deu lugar a um blog onde se foram juntando pessoas, “do BE ao CDS”. O edifício foi demolido, mas o Fórum cresceu. Hoje, tem112 membros e um site com uma média de 600 visitas diárias.
“Somos um movimento de causas”, define Ferrero, que sublinha o facto de se tratar de uma “associação informal” completamente apartidária, mas não apolítica”. O activista só conhece pessoalmente metade dos elementos do Fórum, mas explica que entre os que colaboram “há gestores, advogados, médicos, gente ligada aos media, ás artes e espectáculos arquitectos, engenheiros, estudantes…Novos e velhos”. Todos conciliam a vida profissional com a actividade cívica e alguns moram mesmo no estrangeiro. “Sem Internet não havia nada disto”, diz Paulo Ferrero, lembrando que “tudo é feito a custo zero”.

Lutar contra moinhos de vento

Luis Marques da Silva tem 46 anos e é arquitecto. Passa os dias entre Lisboa e o Porto e aproveita os fins-de-semana para escrever petições, distribuir folhetos e andar pela cidade à procura do que está mal. “Já nos chamaram malucos, mas as nossas causas não são moinhos de vento, são monstros”, diz lembrando uma das vitórias do movimento: graças a uma petição (que reuniu mais de cinco mil assinaturas), o projecto dos arquitectos Valsassina e Aires Mateus para o Largo do Rato foi travado. “O que estava projectado era excessivo em termos de volumetria e desenquadrado do contexto sócio-urbano da zona” justifica.
Foi, aliás, esse projecto que o levou a juntar-se ao Fórum Cidadania, mas Marques da Silva é também um dos mais activos na contestação ao novo Museu dos Coches. Antes já tinha dado a cara pelo movimento Em Defesa do Bolhão, no Porto. “Posso até ser penalizado em termos profissionais, mas não consigo assistir impávido à destruição desta bela cidade”, afirma.
“As nossas próximas batalhas tanto podem ser a colocação de semáforos num sitio qualquer, como a defesa de um edifício histórico”, adianta Nuno Santos Silva. O jurista de 33 anos confessa que muitos dos temas que leva para o Fórum nas cem quando está “no transito ou nos transportes públicos”. A mobilidade é o assunto que mais o motiva e diz que, por isso, já está habituado “a receber muitos insultos e comentários menos simpáticos” no site.
Mas a polémica surge mesmo dentro do “núcleo operacional” do movimento. Jorge Santos Silva, 44 anos, licenciado em História revela ser contra uma das iniciativas do Fórum: “Não posso aceitar que se coloquem autocolantes nos automóveis mal estacionados, até porque eles estragam os carros”.
Santos Silva descobriu por experiência própria a dificuldade que os cidadãos têm em ser ouvidos. “Moro num prédio na Alameda D. Afonso Henriques, que é propriedade do Ministério da Saúde, e ameaça ruir”, conta acrescentando que “foi só depois de ter chamado os jornais e as televisões que o assunto começou a ser resolvido”.

2 comentários:

Ferreira arq. disse...

...”aos meus ombros, minha filha, de 3 anos, com um cravo vermelho na mão, gritava também, contagiada por tanta felicidade: "Liberdade! Liberdade!". Há 35 anos era a Revolução. Depois foi (é) que se sabe. Diz Carlyle na sua "História da Revolução Francesa" que as revoluções são sonhadas por idealistas e realizadas por fanáticos, e quem delas se aproveita são os oportunistas de todas as espécies.”
(Manuel António Pina – 35 anos depois - JN, 2009.04.24)

..."«Nós temos o governo que merecemos, temos os partidos que merecemos, temos os subsistemas de saúde e educação que merecemos, porque somos responsáveis pela nossa sociedade», disse Ramalho Eanes, depois de citar um autor espanhol que responsabilizava os povos submetidos a regimes tirânicos, pela incapacidade de se revoltarem.
«Cabe-nos a nós impor regras, exigir condutas e, quando for necessário, substituirmos os governantes», frisou Ramalho Eanes, no colóquio moderado pelo jornalista Adelino Gomes,"...
(http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=133040)

Neste dia especial, face a tudo o que os cidadãos sentem na pele, é com enorme alegria e satisfação que vemos uma reportagem de um semanário, “O Sol”, sobre o “Cidadania Lx”.
Longe dos oportunistas, pessoas de todas as áreas unem-se em defesa do seu direito democrático de pugnar pela defesa dos interesses sociais e colectivos.

Aqui, o direito e dever de participação da sociedade civil é levado à letra. Sem o medo que se enraizou na vida do dia a dia dos portugueses, que fogem de opinar sobre qualquer atitude ou acção promovida por quem está incumbido de exercer os direitos públicos, como se com isso lhes fosse tirado o parco pão à boca dos filhos.

Os encartados do poder, que quase sempre nasceram iluminados na prerrogativa de que sabem tudo e de tudo, têm aqui a boa vontade de quem, se necessário, rema contra a maré dos individualistas e oportunistas, impedindo que se transforme a cidade de todos, numa coutada de uns poucos.

É esta mais-valia que os nossos políticos responsáveis têm que saber aproveitar, conseguindo com isso minorar erros e desvarios de todas as sanguessugas que quase sempre os rodeiam. Muitas vezes, sem a devida ponderação, implementam actos que resultam em enormes encargos para o povo, a nível económico, ambiental, social, etc.

Aprendam a ouvir o povo, tal como este se mostra aqui no Fórum Cidadania, que só têm a ganhar com isso.

Está de parabéns “O Sol”, que tem os ouvidos limpos e está atento, mas ainda mais, estão de parabéns todos os colaboradores do Cidadania Lx pelo seu empenhamento na construção de uma sociedade melhor.

com senso disse...

Depois do comentário anterior, nada mais poderei dizer.
Mais do que os meus parabéns ao Cidadania LX eu desejo manifestar o meu agradecimento, esperando que nunca desista de "lutar contra os moinhos de vento".
Obrigado