quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

RAFAEL BORDALO PINHEIRO. POLÌTICA: A GRANDE PORCA

"Cá pelo país está tudo diferente e tudo na mesma. As lutas pelo poder continuam. Os partidos sucedem-se. Ainda há algum tempo em conversa com Rafael falámos sobre isso. E que a política é como uma “grande porca”, ambos concordamos. É na política que todos mamam. E como não chega para todos, parecem bacorinhos que se empurram para ver o que consegue apanhar uma teta.
Ao saberem do nosso regresso já vieram oferecer-lhe novamente o lugar de amanuense na Câmara dos Pares. Rafael tem outros projectos. Não é agora que vai largar as publicações. Ainda para mais já há um capitalista para o ajudar no projecto. Vamos ao trabalho que o primeiro número de António Maria ainda tem que sair este ano.
Ainda é mais cedo do que pensávamos. Pouco barulho que o Rafael já está a fazer a apresentação do jornal:
“Fará todas as diligências para ter razão, empregando ao mesmo tempo esforços titânicos para, de quando em quando ter graça. Possuído destas duas ambições, claro está que o António Maria não tem outro remédio, na maioria dos casos, senão ser oposição declarada e franca aos governos e oposição aberta e sistemática às oposições …”
Os colaboradores dos jornal são gente conhecida, entre eles estão Ramalho, Guilherme Azevedo, Junqueiro e eu, claro! Sim, porque agora nunca nos separamos. Ás vezes parecemos um só. Partilhamos opiniões e vamos tecendo comentários. Ainda para mais temos os mesmo ideais políticos - uma república. É isso que queremos para o nosso país. Que é difícil já o sabemos, pois parece que este país teima em avançar a passo de caracol. Pudera, da forma que as coisas estão… Os políticos discursam sem nada dizer. A Igreja vai vivendo dos rendimentos, e bem bons que eles são. E cá o Zé vai continuando ora com “albarda” às costas, ora a apertar o cinto.
O jornal começa a incomodar. O capitalista que o financia decide cortar as verbas como represália contra o facto de se terem metido com o seu partido. Mas amigos é coisa que não nos falta. Todos juntos conseguem reunir o dinheiro necessário para as despesas. Não é agora que vamos perder a independência.
Em 1885 as coisas complicam-se ainda mais. O governo estabelece medidas censórias. Chamam-lhe a “Lei da Rolha”. Não será esta a única que vez que a instituem.

Aqui os rapazes decidem expressar o seu descontentamento. Rafael sugere que todas as publicações se suspendam por oito dias como medida de protesto. Para alguns a ideia é aceite. Outros não perdem a oportunidade de criticar o meu rapaz: “Ó Bordalo, a ti não te faz diferença. O António Maria só sai uma vez por semana….”
Ora bolas! Ele há coisas que nos ofendem! Pois sim senhor! Para que não haja dúvidas quanto ao que pensamos o António Maria deixará de ser publicado, mas umas palavrinhas terão que ser ditas:
Eu não pertenço ao ajuntamento dos jornalistas, por isso que estou sozinho e não há ajuntamentos só de uma pessoa; eu não pertenço ao grupo monárquico, porque este me chama de revolucionário; eu não pertenço ao partido republicano, porque este me alcunha de vendido. Nestes termos, não podendo ser nem político, nem jornalista vou fazer-me simplesmente operário, o que talvez venha a ser alguma coisa".
In vidaslusófonas
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Meus caros amigos, outros tempos, com outros nomes e outras instituições, mas a porca (ria) é a mesma.