quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

OPINIÃO DE...

Não pode passar com indiferença, áqueles que leram este artigo de Sérgio Andrade, a triste e cruel realidade que se abate sobre a nossa sociedade:
Se até aqui nos parecia que tudo o que se lia e ouvia na imprensa e nos noticiários, não passava de algo distante e pouco concreto e que por isso, nunca afectaria as nossas vidas de uma forma drástica e brutal, a realidade agora é outra e merece da nossa parte, enquanto podemos e não nos calha a nós o azar, chamar com todas as forças, o melhor espiríto de solidariedade que temos dentro de nós e tentar minimizar, na medida das nossas possibilidades, esta avalancha de desgraça que se abate sobre parte da nossa sociedade.
Bem haja Sérgio Andrade pelo espirito clarividente e de alerta com que nos presenteou com esta sua...opinião.
.
A FOME CHEGOU "AO VIZINHO DO LADO"
.
"Há fome no Mundo, sabemos - simplesmente, as mais das vezes essa realidade surge-nos distante, impalpável: um fenómeno social, estatísticas, imagens captadas no Corno de África ou no subcontinente indiano. Mas basta uma reportagem (na "Notícias Magazine") para nos abrir os olhos. Afinal, isso também é "connosco". É "a história do seu vizinho do lado".
Não se trata de chauvinismo, mas, se "com a desgraça dos outros podemos nós bem", a coisa muda de figura quando alguém nos segreda que, ao falar-se de fome, não está a falar-se apenas do Zimbabué ou do Bangladesh, mas de 300 mil novos-pobres portugueses, gente que já teve algo de seu e hoje não tem pura e simplesmente que comer. Fala-se de crise e constantemente se alude à prestação da casa, ou do automóvel ou do plasma que se adquiriram porque "durante anos lhes foi vendido um sonho de um mundo maravilhoso que não é real". Problemas, decerto, importantíssimos - mas que são sobrepujados pela luta diária para encher o estômago. Há pessoas que passaram a fazer uma refeição por dia, primeiro, e depois a comer dia sim, dia não, até que acabam por desmaiar, por subnutrição. Como podemos jantar regaladamente quando sabemos que há quem, para enganar a fome, coma saquinhos de açúcar ou de ketchup, ou papel (papel?!), à falta de melhor?
Há instituições que, com dificuldade maior ou menor, têm por missão matar a fome a milhares de seres como nós, cidadãos da todo-poderosa União Europeia. Mas a sua tarefa está cada vez mais difícil porque a crise atinge também as empresas ou particulares que contribuíam para os stocks de alimentos. E, face às perspectivas actuais, face à ameaça de que em 2010 continuará o Mundo atolado numa crise gerada sobretudo pela ganância de uns poucos, pergunta-se se nós, os que todos os dias nos sentamos à mesa, poderemos continuar a assistir, impassíveis, à tragédia de milhares que perderam (e mais perderão) o emprego, perderam (e mais perderão) as suas economias, e vêem chegar o dia em que terão de começar a roubar saquinhos de açúcar nos cafés para matar a fome."




3 de Fevereiro de 2009


in "Jornal de Noticías"

Sem comentários: