Ali brinquei algumas vezes, conduzido pela mão do sr. meu avô Luiz Salvador; lembro-me daquele jardim, como se fosse uma única copa, de uma só árvore gigante, que nos protegia do resto da cidade.
Era de um verde intenso, florestal; era romântico e agradável ,
Por ali passaram e brincaram, o meu tio-avô Eugénio Salvador, o do teatro; meu pai e meus tios.
A tia Nene, sentada comigo num dos bancos ainda existentes, falava-me do seu mestre de piano, o grande Viana da Mota.
E agora?
Conspurcado, inútil e sem vida própria!
Já não há crianças a brincar.
Quando saio de casa e por lá passo, tudo me desgosta, tudo me revolta.
E fico triste, muito triste.
Estou sempre á espera que, num desvairo qualquer de intelectualismo saloio, alguém se lembre de modernizar definitivamente aquele jardim.
Este triste cenário, passa-se no Jardim Cesário Verde.
Os canteiros estão completamente destruídos, sem plantas, com grandes peladas na relva.
Tudo é sujo e degradado.
Não há vigilância nem cuidado; os donos dos "pitbulls" são, em parte, os responsáveis por isto, dado deixarem os seus canídeos arrasarem por completo, parte do jardim.
Mas faltam também os cantoneiros, os vigilantes e os jardineiros, para cuidarem deste espaço maltratado; já vi indigentes defecarem no meio das poucas plantas e depois, limparem-se a elas... Enquanto isso, os sanitários permanecem fechados...
E nós, tratados como uns labregos, adquirimos o já internacional hábito português, de urinar pelos cantos, conspurcando os nossos jardins, monumentos e ruas; por outro lado, perdemos o hábito de usar e disfrutar destes espaços de contemplação, de meditação, de leitura e de brincadeira: Perdemos hábitos sociais característicos, que mantinham a nossa cidade e as suas gentes, num equilibrio social , permitindo a criação de laços afectivos entre vizinhos, levando ao desenvolvimento um tipo de sociedade mais humana e equilibrada...
O hábito faz o monge e agora que perdemos esses hábitos, que nos resta?
2 comentários:
Era por alturas do grande Eugénio Salvador que outro não menos grande por aí passava. Subindo de eléctrico, apeava junto à Escola Comercial Lusitânia, ao fim da rua, onde todos os dias ia buscar a filha que aí estudava. Descia sempre a pé até ao Largo Dª Estefânia onde, passando pelo belo jardim Cesário Verde, convivia sempre com a graça que todos lhe reconheciam com quem lá parava. Dessa escola, mais tarde masculina e onde cursou o autor da Seara de Vento, Manuel da Fonseca, já nada sobra. Do jardim, delícia de tardes bem passadas é o que se vê. A quem me refiro? Ao grande actor e amigo de Eugénio Salvador que com ele tantas vezes contracenou: António Silva.
Visite o Jardim do campo Grande e veja a depredação camarária na vegetação. Incrível...
Nuno Castelo-Branco
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